O que não pode ser contabilizado
Por Luiz Claudio Ferreira em 18/01/2011 na edição 625
"Já é a maior tragédia natural da história", mancheteiam os jornais. O governador Sérgio Cabral disse... O governador Geraldo Alckmin afirmou... A presidenta Dilma lamentou... A cobertura dependente dos discursos oficiais e da contabilidade fúnebre não é novidade em mais esse janeiro, de chuvas e mortes. Parecem tão pegas de surpresa como prefeitos e governadores. Como poderiam imaginar que isso fosse ocorrer? Como, como? O fato é que a imprensa brasileira perdeu, mais uma vez, a oportunidade de trazer o assunto à tona antes do primeiro pingo d´água e prestar serviço público. Estava ocupada com as despedidas do presidente, com a possível roupa de Dilma, com o caso Cesare Battisti, com a novela Ronaldinho. Com tanto barulho, não foi possível ouvir. O morro já estava em deslizamento, mas em silêncio.
Como não é possível calcular quanto vale uma omissão, fica mais simples contar os milímetros de chuva e até os cadáveres no meio da rua misturados ao lamaçal. De microfones em punho, lá estamos nós esperando uma declaração. "Quantos morreram?", "Já é a maior tragédia?", "Quanto de dinheiro vai ser liberado agora?" Pronto, já com a manchete do dia, nem é necessário mais saber como evitar que outros acidentes ocorram. A prestação de serviço não é apenas contar a história daquele pai que perdeu a filha. Mas como outros pais não perderão as suas. Ao que nos conste, obras contra cheias ocorrem fora do período de chuvas. Se ocorrem ou não, agora já é tarde para saber. Conscientização com moradores de encostas deveria ser feita todos os dias. Mas jornalista não vai para encosta quando o morro está seco.
Dengue e febre amarela
Mais uma vez, as dimensões da apuração jornalística encostam no factual e no drama. As causas ficam em um espaço sombrio, tecnicista e até fatalista. Coitado de São Pedro. Na hora da chuva, apurar os rastros desse crime ocorre de forma atropelada. Ou