O Quanto Da Obra Da Escravidao
Fundação Getúlio Vargas
Curso de Administração Pública — T6
Brasil: História recente e interpretações 2015/1
O quanto da obra da escravidão ainda permanece hoje?
O período escravocrata no Brasil, compreendido desde o Período Colonial até a abolição da escravidão em maio de 1888, é considerado até hoje o mais longo período de escravidão nas Américas. Joaquim Nabuco, um grande diplomata do Império do Brasil e também um dos líderes do movimento abolicionista, interpreta de forma precisa o regime escravocrata e alega que, para além das relações de produção do regime, há um reflexo enorme da escravidão na sociedade.
Nabuco se refere à tal fenômeno como a obra da escravidão, ou seja, a infiltração do escravismo em todos os âmbitos da sociedade: tanto como modelo econômico vigente, quanto modelo social e político. Em outras palavras, a escravidão passa a ser uma realidade cotidiana; um modo de vida. Portanto, quando se propõe qualquer análise contemporânea, é de suma importância levar em conta os resquícios do regime escravista como contexto histórico fundamental. Nesse excerto, caberá a problematização: O quanto da obra da escravidão ainda permanece?
A verdade é que grande parte da obra da escravidão está presente na sociedade brasileira atual. Apesar do Brasil ser um país predominante negro, — segundo o último censo do IBGE (2013) a população negra corresponde à 51% do total — o que ocorre é a marginalização dessa etnia pela sociedade. Não houve, nas palavras de Nabuco: “[uma reforma] de nós mesmos, do nosso caráter, do nosso patriotismo, do nosso sentimento de responsabilidade cívica.” De fato, não houve nenhuma ruptura com o pensamento escravocrata. A estrutura mantida após a Lei Áurea não possibilitou a real emancipação do Brasil para com a escravidão, não obstante, julgou que os resquícios escravocratas desapareceriam de forma natural.
Isso se comprova a partir de alguns dados econômicos: Enquanto a renda da população branca é de