O autor de O Processo, Franz Kafka, influenciou a literatura com temas que ultrapassaram a racionalidade, lucidez e traços irônicos. Seu estilo límpido não o impediu de narrar os piores pesadelos de uma sociedade problemática do início do século XX. Sua escrita parte do individualismo para alcançar o universalismo, transformando acontecimentos e agonias sociais. A atmosfera de pesadelo transparece a angústia interna do próprio autor, como foi visto em Dostoiévski e suas particularidades do Homem do Subsolo. A complexidade do pensamento do autor que critica a opressão burocrática das instituições, retrata uma “justiça” incompreensível e revela a fragilidade dos homens comuns frente aos acontecimentos ao longo do processo. É mostrado ao longo da obra a desintegração da personalidade humana ante um Estado totalitário e impessoal. O processo, romance, conta a história de Josef K., personagem chave que tem seu destino mudado ao acordar numa manhã comum e, sem motivos conhecidos, é preso e sujeita-se a um processo sob crime não revelado. A ação desenvolve-se num clima de sonhos e pesadelos misturados a fatos corriqueiros, beirando à irrealidade e à loucura. “Alguém devia ter caluniado a Joseph K., pois sem que ele tivesse feito qualquer mal, foi detido certa manhã. A cozinheira da senhora Grubach, sua hospedeira, que todos os dias às oito horas lhe trazia o desjejum, não se apresentou no quarto de K. nesta manhã. Jamais acontecera isso. [...] [K.] fez soar a campainha. Imediatamente bateram em sua porta, e no dormitório entrou um homem ao qual K. jamais vira antes naquela casa” (KAFKA, 1979, p.37) O júri responsável pelo crime de Josef K. é inerente à sociedade. Porém ele, Josef K., não insiste em indagar o porquê da sua culpa, ao longo do processo carrega a sua falta – condição essencial do ser, a qual não necessita justificativa. Para Kafka a pior prisão é a consciência. Logo, o Estado é quem apenas controla, não