O povo brasileiro
A expansão do domínio português terra adentro, na constituição do Brasil, é obra dos brasilíndios ou mamelucos. Gerados por pais brancos, a maioria deles lusitanos, sobre mulheres índias, dilataram o domínio português exorbitando a dação de papel das Tordesilhas, excedendo a tudo que se podia esperar.
Os portugueses de São Paulo foram os principais gestadores dos brasilíndios ou mamelucos. O motor que movia aqueles velhos paulistas era, essencialmente, a pobreza da feitoria paulistana, mera vilazinha alçada no planalto, a quatro dias de viagem do mar, que se alcançava dificultosamente através da selva e de águas tormentosas, subindo e descendo escarpadas morrarias. No dizer de Sérgio Buarque de Holanda, os impelia a "[...] exigência de um triste viver cotidiano e caseiro: teimosamente pelejaram contra a pobreza, e para repará-la não hesitaram em deslocar-se sobre espaços cada vez maiores, desafiando as insídias de um mundo ignorado e talvez inimigo (Holanda 1986:26)." O que buscavam no fundo dos matos a distâncias abismais era a única mercadoria que estava a seu alcance: índios para uso próprio e para a venda; índios inumeráveis, que suprissem as suas necessidades e se renovassem à medida que fossem sendo desgastados; índios que lhes abrissem roças, caçassem, pescassem, cozinhassem, produzissem tudo o que comiam, usavam ou vendiam; índios, peças de carga, que lhes carregassem toda a carga, ao longo dos mais longos e ásperos caminhos.
Desgastadas as tribos escravizáveis que viviam por perto, os brasilíndios paulistas os foram buscar nos esconsos em que estivessem. Para isso, se organizavam em bandos imensos de mamelucos e seus cativos que, por meses e até anos, se deslocavam a pé, descalços, nas bandeiras ou remando as canoas das monções. Nas entradas mais profundas e pioneiras que duravam anos, viajavam uns quantos meses e acampavam para plantar e colher roças com que se supriam de mantimentos para prosseguir viagem