O poder da escrita e a escrita do poder
Ana Cláudia Balieiro Lodi
Pensar na inclusão digital lembra também um pouco do início da linguagem escrita, quem o domina está unido, conectado, quem não o utiliza está isolado, não recebe a informação no tempo real. Separa os que não a possui por não acompanhar as mudanças e a evolução, e no caso da língua escrita ainda havia a proibição.
Os interesses (divisões sociais) e os fatores (formações sociais) da época foram determinados pelos que dominavam a escrita e seu desenvolvimento. Esses defendiam seus ideais e conservavam a dependência da base da hierarquia. Por muito tempo a escrita esteve ligada a casta do poder, assim como por muito tempo também esteve à leitura silenciosa limitada aos escribas monásticos até chegar à universidade, mostrando-se silenciosa e reservada, rápida e especializada. Era como se a escrita não estivesse associada à leitura e somente a atividade de preservação e memória, substituído pelo modelo escolástico que caracterizou o livro como o objeto e instrumento de trabalho intelectual, porém ainda para uma minoria, assim como a circulação de vários textos da cópia manual.
O poder da corte queria impor a transformação social aos seus, e não obteve êxito, assim ao se deparar com novas terras, resolveu reproduzir o espaço urbano de seu ideal no novo território: em uma forma circular: autoridades no centro, estratos sociais em torno desse centro para prevenir desordens e mudanças no que foi preconcebido. A partir daí a escrita vai ganhar importância para que atos de fundação e as escrituras de posses de terras fossem registrados sem dependência e livre de mudanças da história.
Porém a forma de inclusão da inscrita alterou outros aspectos e não foi inserida somente dessa forma. Após o etnocídio (desaparecimento por inteiro dos traços culturais, língua, costumes, hábitos, mitos) veio à educação através de uma gramática criada para normalizar e adaptar ao progresso do “povo selvagem” aos moldes