O pensar e agir
. O narrador mais famoso de Guimarães Rosa, Riobaldo, em suas reflexões de jagunço, já sabia que é somente sob o “signo da neblina” que podemos apreender o outro: “Diadorim é minha neblina”3
. Neste mundo misturado, para ainda usar uma expressão do sertão de Rosa, a nossa questão maior deve ser sempre a alteridade: o outro que se mostra com suas singularidades específicas. O exercício da diversidade cultural apresenta-se, pois, alinhavado na complexa tarefa de entender que as diferenças devem ser pensadas como condição de originalidade e pluralidade do homem, portanto, como um elogio à condição humana. A experiência com a diversidade exige um olhar que capta o outro na sua opacidade, ou seja, que não tenta impor a ordem do conhecimento completo sobre o outro. É preciso a “neblina” para que, respeitado os mistérios do diferente, a diversidade possa surgir em toda a sua potência.
Os dez artigos que compõem este livro apresentam olhares diversos sobre a questão da gestão cultural, entendida como atividade que deve sempre ser pensada dentro da perspectiva da proteção e promo- ção da diversidade cultural. Nesse sentido, como ressalta José Márcio
Barros, em um dos textos deste livro: “diversidade cultural e gestão são expressões que, longe de revelarem consenso e homogeneidade, nos remetem ao campo das ambiguidades e contradições com que pensamos e nomeamos nossas diferenças e nossos modos de geri-las.”
Ou seja, ao pensar em gestão cultural, também estamos refletindo sobre o jogo da alteridade. Isso porque o exercício de práticas culturais instigantes e, de fato, significativas para os envolvidos nelas, requer muito além de sensibilidade e boas intenções. Tensões políticas de variados modelos de ordenamento e gestão tornam a diversidade cultural a própria possibilidade de lidar com a realidade multifacetada por excelência. Práticas de gestão resultantes da capacitação adequada de gestores