O pensamento mitológico na teogonia de hesíodo
Não há uma acepção satisfatória de ‘mito’, porém há observações que podem ser feitas para ajudar a compreender seu significado. O mito é uma forma de pensamento por imagens e existe para tentar explicar algo (e.g. o nascimento dos Deuses e do mundo). O mito é honesto sem ser verdadeiro. Não é, ao contrário do que alguns afirmam, uma história verdadeira mesclada com mentiras. O mito é um princípio filosófico que é inteiramente verdade, na condição de que, em vez de tomá-lo literalmente, vê-se nele uma alegoria. Os mitos são, portanto, histórias sobre pessoas contadas por pessoas. Na qualidade de relatos transmitidos através da história - de geração para geração, de uma sociedade a outra – o mito é uma realidade dependente das condições históricas e sociais do momento que o cerca. Uma história real pode transformar-se em mito e, assim, este conserva testemunho de situações que de outra forma seriam perdidas. Essas histórias tocaram a realidade em algum momento e agora se apresentam com um propósito maior.
A mitologia grega, muito antes do advento da escrita, já se espalhava graças aos aedos – ‘cantor’ em grego antigo. Esses poetas, que compunham longas canções e sabiam muitas outras de cor, cultuavam a deusa Memória (Mnemosine) e as musas – suas filhas. Mais tarde, com a adequação da escrita fenícia à língua grega, criou-se o alfabeto e as canções foram escritas – chegando até nós. Os aedos, eventualmente, desapareceram. O culto à Memória foi posto de lado. Porém, dessa longínqua época chegaram até nós importantes canções. Afinal, foi como aedos – e não como escritores – que Homero compôs a Ilíada e a Odisséia, e Hesíodo compôs a Teogonia e O Trabalho e os Dias. Inspirados pelas musas, esses dois grandes poetas deixaram grandes canções que são até hoje fonte inesgotável de estudo e inspiração.
O sistema de pensamento mitológico é uma forma de explicar o mundo. A Teogonia (Theogonía, grego para “nascimento dos