O Narrador e suas características comuns em três obras de Guimarães Rosa
Jovanir Poleze
Desenvolver um determinado ponto de vista acerca de um dado texto literário é algo comum desde muitas décadas. Porém, desenvolver tal ponto de vista quando se trata daquilo de que o texto não descreve, então se torna tarefa delicada.
Ao deparar-se o leitor com dos textos de Guimarães Rosa, muito certamente estará impelido a querer informações que o texto não apresenta, mas que parecem fundamentais no desvelamento de seus personagens, principalmente seus protagonistas.
Tendo lido e refletido três das obras desse autor (a saber: “Sorôco, sua mãe, sua filha”, “A menina de lá” e “a terceira margem do rio”), não pude deixar de notar essa sua particularidade, a de posicionar a figura do narrador no lugar comum dos mortais.
Explico-me:
Encontramos no narrador de cada uma dessas três obras, a limitação a descrever aquilo que o mundo real lhe “oferece”, aquilo que “ele mesmo vê”, ou seja, não descreve o que supostamente faça, ou não, parte mundo psíquico ou do universo mental que determina a natureza e características do personagem. Nem sequer o narrador trata do que está fora de seu campo físico de visão.
Em Soroco, sua mãe, sua filha, por exemplo, encontramos claramente essa particularidade do narrador. Ao descrever as cenas, tudo o que ele nos mostra é nada mais do que aquilo que presencia: o carro parado; a gente reparando; o ajuntamento de gente; o movimento; a hora de muito sol; alguém que avisa: “eles vêm!”; a descrição física de Sorôco; a descrição do que se comentava a seu respeito, ou de sua mãe, ou de sua filha; etc. Nada além do visível, ou do audível. Não se perde em psiquismos em relação aos três personagens que tomam a cena. Note-se que, mesmo quando se trata do para onde vai o carro que levará as duas mulheres, o narrador não discorre sobre as características de Barbacena ou sobre o suposto manicômio para onde serão levadas.
Nessa obra,