O Mundo Da Vida N O Cabe Em Gavetas
Sobre haréns e tanacod
“ninguém até hoje descobriu uma maneira de entender as coisas sem fazer perguntas”. Depois disso, tia Habiba faz uma longa descrição de como os haréns se modificam de uma parte do mundo para outra e, também, como se vêm modificando de um século para o seguinte, mostrando os muitos entendimentos possíveis para o que possa ser um harém.1 Essa curta história, narrada a partir de uma tradição milenar que não percorreu as mesmas trilhas da nossa racionalidade ocidental, dá-nos uma boa pista acerca de como podemos iniciar a conversa sobre perguntas sem respostas e perplexidades.
Poderíamos dizer que nós, ocidentais modernos, estamos entalados numa boa tanacod. Principalmente porque não fomos educados para aprender com as contradições, mas ao contrário, para suprimi-las, “resolvendo-as”. Aprendemos com o conhecimento científico que para tudo há uma resposta. E, se houver mais de uma, essas respostas não devem ser contraditórias, pois nesse caso poderiam indicar um “erro”. É isto ou aquilo.
O mundo da vida, com sua complexidade, continuamente ultrapassa e transborda os limites das gavetas onde o pensamento especializado e disciplinar o quer encerrar.
E é bom lembrar que esse modo de apreender a realidade se generalizou mesmo para as pessoas comuns, não-cientistas, definindo uma única maneira como a maneira “correta de pensar”. Muitos outros modos de conhecer a realidade ficaram de fora desse modelo e, hoje, com a crise do conhecimento moderno, começam a ser resgatados sendo valorizados como formas alternativas de construção de conhecimento. A preocupação em encontrar a resposta certa, a maneira correta de aprender, o melhor método de ensinar reflete muito da ansiedade moderna, fruto de um pensamento extremamente dualista e excludente. Isso, muitas vezes, tem impedido a busca criativa de respostas plurais.
“As palavras são como cebolas”, disse. “Quanto mais camadas você retira, mais significados aparecem. E