O mito das três raças
“Em 1853, o conde Arthur de Gobineau publicou seu Essai sur l'inégalité des races humaines, que, somente cerca de cinquenta anos mais tarde, já no início do século XX, se tornaria fundamental para as teorias racistas da história. A frase inicial dessa obra de quatro volumes — "O declínio da civilização é o fenómeno mais notável e, ao mesmo tempo, o mais obscuro da história" — revela claramente o interesse essencialmente novo e moderno do autor e o tom pessimista que domina sua obra, gerando a força ideológica capaz de unir todos os fatores ideológicos anteriores e as opiniões em conflito.[...] As doutrinas da decadência parecem ter alguma conexão ideológica íntima com o sentimento racista.”[1]
Numa época na qual grande parte dos filósofos e pensadores europeus louvavam e acreditavam no progresso moral e tecnológico da humanidade levado a cabo por meio do desenvolvimento científico, jurídico, econômico e político, Gobineau profetizava a ruína e a catástrofe da humanidade. A nobreza perdia sua força e cabia ao conde explicar como era possível que os “melhores homens”, os nobres, fossem superados pela burguesia ascendente. Desse modo, chegou à conclusão de que a queda das civilizações fosse resultado da degenerescência da raça por conta da mistura de sangue. “Isso implica – logicamente – que, qualquer que seja a mistura, é a raça inferior que acaba preponderando.”[2] A obra de Gobineau foi uma das responsáveis pela deflagração do chamado racismo científico. Os europeus, desejosos de incluir todos os povos dos quais tomaram conhecimento por meio das grandes navegações na categoria de “humanidade”, tiveram de lidar com as diferenças físicas e culturais apresentadas pelos diversos povos existentes. Apesar de defenderem uma essência racional, que permearia todas as diferentes populações humanas, se deparavam com uma questão urgente:
“se o dogma cristão da unidade e igualdade de todos os homens baseava-se na descendência