O mito do hesiodico
O texto baseia-se numa breve exposição da interpretação estrutural de Jean-Pierre Vernant em relação ao mito das raças. Essas considerações mostram que o mito das raças não tem como fio condutor uma linearidade decadente, tal como alguns intérpretes apontaram em relação à narrativa, mas segue um tempo cíclico.
A pesquisa mostra três planos contraditórios no mito, tendo como ponto de tensão as noções de justiça (Díke) e de desmedida (Hýbris). Ele apresenta o mito hesiódico das raças, onde os deuses criaram os homens, e que cinco raças diferentes se sucederam a segunda destas raças, a raça de prata, (inferior a raça de ouro, a primeira geração de homens, em uma época anterior a Zeus, uma época dominada por Cronos e que simbolizava o ideal da felicidade.) tinham um orgulho gigantesco e eram teimosos demais, recusando-se a venerar os deuses, o que fez Zeus exterminar a todos, que se tornaram os bem- aventurados dos infernos. Neste mesmo mito, segundo Hesíodo, Zeus demonstra ser uma força temível quando envia um dilúvio para exterminar os sobreviventes da terceira raça, a raça de bronze, onde os homens só pensavam em lutar entre si, e acabaram se matando uns aos outros.
O mito das Cinco Raças como já foi mencionado, não se enquadra na noção de tempo que não é linear, em Hesoído, consideramos cíclico. Porém existe uma escala de decadência, ou seja, a primeira é a de ouro, seguida da de prata, bronze e por último a de ferro. No entanto, essa escala hierárquica de metais é quebrada pelo próprio Hesíodo, que intercala a raça dos heróis entre as de bronze e de ferro, destruindo o paralelismo entre raças e metais, o que tornou a raça dos heróis superior a raça de bronze. Assim, de acordo com Jean Pierre Vernant:
O mito atenderia assim a uma preocupação dupla: de início, expor a degradação moral crescente da humanidade; em seguida, fazer conhecer o destino, para além da morte, das gerações sucessivas. (...) Desse modo, o mito das idades