O mal-estar na civilização
José Otávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1974.
Wallace dos Santos de Moraes1
Sigmund Freud amiúde está se perguntando, filosofando novas e antigas questões, umas aparentemente absurdas, outras patentemente interessantes. Nesta dialética, o pensador dá lições importantes a muitos cientistas sociais que não mais se interrogam, que partem de alguns princípios absolutamente contestáveis, que normalmente estão presos a uma camisa-de-força capitalista-liberal.
O principal problema colocado por Freud neste trabalho é o de como a civilização não consegue atingir a felicidade, e, embora o desenvolvimento da humanidade seja ótimo, ele ainda tem vícios que impedem de fazer com que caminhemos em direção à felicidade. Como responder isto? Do ponto de vista da política, ele descarta tanto o liberalismo (embora não o cite uma única vez, mas alguns de seus pressupostos) quanto o socialismo que teria um entendimento equivocado da natureza humana.
A referida obra se caracteriza por uma larga utilização dos conceitos de ego, libido, narcisismo, neurose, psicoses, sadismo e outros que se determinam e se entrelaçam. Portanto, seu caminho é o da psicologia, da psicanálise. Cabe salientar que ao tipificar os conceitos por ele utilizados, Freud estabelece uma hierarquia temporal. A natureza humana, o comportamento, o corpo, a mente são seus principais objetos e, por conseqüência, as relações humanas na sociedade. Com efeito, ele não se prende à análise do indivíduo pura e simplesmente, mas deste indivíduo inserido, influenciando e sendo influenciado, nesta sociedade. Daí a importância do histórico da família, do homem primitivo, até chegar a nossa civilização que deve continuar evoluindo para chegarmos ao dia em que as leis sejam feitas por todos e para todos na busca da felicidade. A idéia de progresso perpassa por toda a obra. O termo civilização, muito utilizado, é entendido