O lugar do analista na clínica com a criança autista
ESTAR LÁ PARA SER ENCONTRADO Maria Izabel TAFURI1
Na década de 1930, Melanie Klein e Anna Freud propuseram, cada uma à sua maneira, uma condição vital para a relação analítica com os pequenos: o uso das interpretações verbais. Esse modelo foi também estendido às crianças não falantes, ensimesmadas que não estabelecem relação afetiva com o analista. E o mais significativo, Melanie Klein com o Pequeno Dick, afirmara categoricamente “senti-me obrigada a fazer minhas interpretações à base do meu conhecimento geral, sendo as representações do material de Dick relativamente vagas” (Klein,1930:73). Segundo a psicanalista, o simbolismo pode ser revelado pela criança inibida por detalhes do seu comportamento permitindo que o analista faça a interpretação para, nesse caso, criar a relação transferencial que caracterizaria a relação analítica com a criança. E em oposição à A. Freud, Klein enfatizara a primazia do efeito da interpretação verbal na relação transferencial com Dick em detrimento das ações pedagógicas para adaptar o pequeno à sociedade. Em suma, o campo psicanalítico em relação às crianças ensimesmadas que não fantasiam a realidade ficou marcado por um paradigma clássico: o analista necessita fazer interpretações verbais das ações pouco representativos das crianças ensimesmadas que não fantasiam a realidade para criar a relação transferencial.
Importante sublinhar que à época da formulação do paradigma kleiniano a descoberta do Autismo infantil precoce ainda não existia no campo psiquiátrico. Havia apenas a noção de Esquizofrenia Infantil, com o Pequeno Dick, Melanie Klein apontou para a ausência de classificação para descrever a criança considerando que a jovem criança se parecia com uma criança ensimesmada semelhante ao quadro da Esquizofrenia Infantil, entretanto com uma distinção marcante, Dick não fantasiava a realidade, não demonstrava angústia de