O lazer e o uso da infância
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O LAZER E O USO DO TEMPO NA INFÂNCIA
Nelson Carvalho Marcellino Prof. do IAC/PUCCAMP
Nos estudos referentes ao lazer o peso do aspecto "tempo" é bastante significativo. O próprio conceito de lazer, hoje mais aceito e difundido, inclui esse aspecto na sua consideração, situando-o no “tempo livre” ou “disponível”, portanto supondo obrigações profissionais, familiares, religiosos etc. A partir dessas conceituações, que incluem também outros aspectos, alguns autores questionam se o termo lazer pode ser usado corretamente para crianças, especialmente em idade pré-escolar, uma vez que o tempo para elas ainda não pode ser dividido em atividades obrigatórias e não obrigatórias [Nota: 1]. O fato desses autores se referirem a uma realidade social distante da nossa, coloca-nos, desde o início, frente a uma questão: Será que esse raciocínio poderia ser aplicado às nossas crianças? Entre nós, a abordagem da questão da criança tem se caracterizado por abstrações, que idealizam essa faixa etária, como portadora de algumas peculiaridades, aplicáveis a todos os seus pertencentes. Entre os atributos considerados inquestionáveis está a "falta de compromissos" afetada, quase que exclusivamente, pela obrigatoriedade da atividade escolar. A aura de romantismo que envolve a infância tem no ideal do "tempo livre" uma de suas bases de sustentação mais atraentes. O saudosismo dos adultos, em muitos casos, não é sequer afetado pela lembrança das imposições autoritárias que cerceavam essa "liberdade", na sua própria infância, ou pela comparação entre as diferenças na apropriação do tempo entre meninos e meninas, entre os colegas ricos e os pobres, entre os seus pais e os seus filhos. Lançar: alguns questionamentos sobre essa pretensa disponibilidade de tempo na infância e sua fruição livre e espontânea é o objetivo deste artigo.