O ladrão
Um rapaz descendo a rua, gritando “Pega!”, foi o motivo necessário para acordar o bairro e levantar um grupo de voluntários na perseguição de um possível bandido fugitivo. Ninguém sabia quem ele era e nem o que havia feito. Pouco a pouco, os moradores do bairro acordavam, as luzes das janelas se acendiam e o grupo de perseguidores só aumentava. O sentimento de susto e agitação que se instaurou no bairro terminou em um ar de festa. Surgiu uma vontade de conversar, contar casos e os moradores acabaram se conformando com a certa fuga do bandido e a ausência de perigo. Grupos se formaram, um rapaz tocava uma valsa no violino, a chegada da mulher do português gerou declarações do guarda e despertou falsas esperanças em outros rapazes. O fim da noite acabou trazendo de volta a rotina do bairro. Os moradores foram um a um voltando a suas casas, o guarda retornou ao seu posto, a valsa acabou, as janelas se fecharam e só restou um grupo de três pessoas reunidas no lugar onde se passa o bonde.
Primeiro de Maio
Era Primeiro de Maio e 35, carregador da Estação da Luz, acordou, tomou banho e barbeou-se para celebrar de forma digna o seu grande dia. 35, enquanto se barbeava, matutava sobre a condição de opressão da classe proletária, sobre os rumores dos “motins” que poderiam se instaurar no Primeiro de Maio em outras grandes cidades e se compadecia de seus iguais, trabalhadores. Vestido com uma roupa preta de luxo, 35 saiu para aproveitar o seu grande dia. Decidiu percorrer a cidade, passou na Estação da Luz para cumprimentar os amigos. Havia pouca gente nas ruas, tudo fechado, o que havia de fato eram policiais em todos os cantos.
Sentado em um banco de jardim, 35 abriu o jornal e leu comovido um artigo sobre a nobreza do trabalho, depois viu as notícias sobre os esperados “motins” em Paris, as providências da polícia para conter comícios e passeatas em São Paulo e sobre a grande reunião proletária no Palácio das Indústrias, um lugar fechado. 35 ficou