O diário de um ladrão
Lucília de Sousa Leão Teixeira Ao ler o “Diário de um ladrão”, de Jean Genet e me deparar com a inserção do feio na arte - representado através do grotesco, da dor, do abjeto, das excreções, do cadáver - comecei a me perguntar: “Qual é o limite da representação na arte?” o limite da arte para alguns é o belo e o bem. Contudo, há outras possibilidades de fruição da obra de arte. Até que ponto alguém pode relatar morte, prazer e outros sentimentos e nos afetar diretamente? Penso que, algumas vezes, a arte não dá conta dessa tarefa. A tríade que compõe esse diário às avessas é formada por: homossexualidade, roubo e traição. Dos três, a traição é o esteio. Genet valorizava-a como um ato moral e como uma forma de atingir uma virilidade impossível de ser ofendida. A questão da obra vai além da mimese do referente. O marginal é o que se valoriza; aquele que está descartado, o resíduo, o ladrão, que quer o que é meu para ficar igual a mim. Os imundos são transformados em santos por Saint Genet, o mártir e escritor. A infâmia deixa de ser pobre e passa a ser tomada como uma experiência. Há uma criação do erotismo a partir do imundo. Jean Genet nasceu em 1910 e foi deixado pela mãe em um orfanato, sendo adotado por camponeses de Morvan. Na escola, quando ganhou o prêmio pela redação intitulada “Descreva o seu lar”, percebeu que através da escrita podia fingir e persuadir as pessoas. Esteve em um reformatório após a prática de roubo e também ficou detido em uma prisão em Frésnes, onde leu “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust. Seu primeiro livro, “Nossa Senhora das Flores”, chamou a atenção de Jean Cocteau, mas foi através da influência de Sartre que ficou famoso. Sobre sua obra “Diário de um ladrão”, Genet declarou: “Posso dizer que o fiz com prazer, mas tudo está terminado. Ao escrever, obtive aquilo que buscava”. O “Diário de um ladrão” possui uma ideia de