Um roubo - Miguel Torga
Ao analisarmos as diversidades nas obras de Miguel Torga podem observar características inconfundíveis nos seus escritos. A temática de Miguel Torga se baseia em três grandes pilares: O desespero humanista; a problemática religiosa e o sentimento telúrico.
Analisar Miguel Torga é como analisar reflexos sociais de Portugal. Os personagens são inseridos em ambientes rústicos e pobres. São personagens natos nas dificuldades e passam pela vida com a visão irônica de todo o meio do qual emanam as tradições, as crenças, o trabalho, a religião.
“Ninguém tem qualquer interesse em saber isto; mas se eu tivesse de me confessar socialmente, a síntese do meu desespero era esta: que cheguei, em matéria de descrença no homem, à saturação.
E, contudo, este perdido, este condenado, merece-me uma ternura tal, que não há tolice que faça, asneira que invente, mentira que diga que me deixem indiferente. Tenho por força de olhar, reparar, ouvir, e comentar com toda a paixão de que sou capaz.”
Miguel Torga, in "Diário (1942)"
Um roubo
Nos “Contos da Montanha”, encontramos diversas personagens que nos mostram o universo regionalista de Miguel Torga. Nos contos de Torga as ações decorrem num emaranhado de emoções, onde as personagens vivem tais ações num tempo ilimitado, quase descrito em uma vida.
No conto “Um roubo” conta a história de um atrapalhado bandido que planeja assaltar uma igreja a fim de tirar a família da pobreza. Ludibriado pela fortuna, refém de uma sociedade marginalizada, vivendo em meio à fome, pobreza e subdesenvolvimento.
Na história, pode ser analisada a caracterização que o autor faz do personagem Faustino. O personagem tenta fugir do meio em que foi inserido, um meio marginalizado e desigual.
“...Um homem magro, baixo, de barba restolhada e olhos de azouge, vivo, flexível, decidido como uma doninha...”
(...)
“ideia desse roubo o obcecava (...). Punha-se a deitar contas à vida, às casas da povoação onde lhe fosse possível