O Kula: Sistema de Troca-dádiva intertribal da Melanésia
Consideração Inicial
O presente trabalho tem como objetivo passar alguns entendimentos sobre um dos exemplos de sistema de trocas-dádivas explorados no livro Sociologia e antropologia de Mauss. O escolhido foi o kula – troca intertribal da Melanésia, descrito por Mauss tomando como referência os estudos do antropólogo Malinowski em seu Argonautas do oeste do Pacífico. Ressaltamos que aqui apresentaremos apenas uma dimensão muito geral do kula, tendo em vista a intensa descrição etnográfica no livro ora citado. Entretanto, já nos possibilita um entendimento maior quando da futura leitura do mesmo.
O kula
O kula, conhecido também como circuito kula ou intercâmbio kula, é uma forma de troca de caráter intertribal praticadas por comunidades localizadas num extenso conjunto de ilhas do norte ao leste e extremo oriental da Nova Guiné, formando um circuito fechado, descrito pelo antropólogo Malinowski. Na Figura 1, este circuito está representando pelas linhas que unem as diversas ilhas ao norte e a leste do extremo oriental da Nova Guiné.
De acordo com Mauss, kula quer dizer literalmente círculo, sendo comparável ao Potlatch, uma prática de intercâmbio ritual das tribos do Pacífico Noroeste da América e corresponde ao momento mais solene de um vasto sistema de prestações e de contraprestações que englobam a totalidade da vida econômica e civil dessas populações. Essa instituição tem também uma face mítica, religiosa e mágica. Os vaigua’a, objetos das trocas-dádivas (Figura 2a e 2b), não correspondem somente à moeda, mas proscrevem à guerra, representam alianças, o que supõe o intercâmbio de bens, mulheres, hospitalidade.
Os participantes do kula viajavam centenas de quilômetros de canoa transportando vaigua’a. Ao longo dessa rota, duas espécies de artigos - e apenas essas - viajam constantemente em direções opostas. Os colares, de conchas vermelhas, chamados souvala (Figura 2a) viajavam no