O japão entre a espada e os crisântemos
Paulo Carmo *
Se há um país que para o Ocidente conserva a antiga ideia do Oriente inescrutável, esse é sem dúvida o Japão. A misteriosa interacção de duas pulsões contraditórias continua a caracterizar a percepção que se tem no Ocidente da Civilização Japonesa. No final da Segunda Guerra Mundial, a antropóloga americana Ruth Benedict propôs, através de duas palavras, uma definição que se mantém actual. O crisântemo e a espada . A nomeação, com carácter minimalista, de dois objectos contraditórios espelha a difícil síntese concretizada na Civilização Japonesa. Apesar do extraordinário caminho de integração com o resto do mundo, percorrido sobretudo após a Segunda Grande Guerra, a nação mantém o orgulho de um povo diferente e inacessível, a que não é alheia a preocupação do Estado com a integridade da sua própria cultura. O facto de se tratar de um território formado por quatro grandes ilhas e milhares de outras mais pequenas, localizado a certa distância de um continente, terá contribuído para a formação dessa originalidade. Porém, nesse continente, o que estava para lá do mar era a poderosa Civilização Chinesa e os habitantes das ilhas não podiam evitar a sua influência ou as suas referências, o que resultou historicamente numa relação atribulada, complexa mas inevitável. A começar pela escrita que começou por só usar caracteres chineses, e que depois adoptaria em conjunto os seus próprios mas alguns nunca mudariam, como os que são usados para nomear o próprio país. O que em chinês se lê riben , em japonês nihon e que significam o sol nascente ou onde nasce o sol.
A lenda que explica no Japão a sua origem está intimamente ligada ao sincretismo religioso nacionalista designado Xintô, a via dos deuses. Nele se justifica o culto ao imperador como descendente da deusa do sol Amaterasu O-mikami confirmando a umbilical ligação da religião ao Estado. Uma das características próprias do Xintô é a convivência do culto às