O HOMEM QUE PASSAVA
Eu trabalhava numa oficina de motos e via um homem passar quase sempre sozinho mas de vez em quando acompanhado de uma bela jovem.
Às vezes ele passava bem de manhã e voltava logo em seguida
Alguns dias passava várias vezes e voltava.
Sempre com a mesma fisionomia o mesmo semblante
Mas às vezes olhava para o horizonte
Sempre sério, olhando para frente
Sempre direto e reto
Não cumprimentava ninguém a não ser um amigo que bebia umas e outras.
Não entrava na lanchonete e nem no barbeiro.
Apenas passava, pra lá e pra cá.
E eu também não me importava porque seu andar era de tanta tranquilidade
Como se nada de ruim fosse acontecer.
Com o passar do tempo todos os dias eu comecei a aguardar o momento em que ele passaria e eu passei a esperar que ele passasse para confirmar que o dia continuaria andando para confirmar que a terra continuaria girando para confirmar que tudo continuava exatamente como deveria ser.
Se ele passasse, estaria tudo bem.
Eu queria apenas vê-lo passar na ida e na volta sei lá de onde para deixar a vida correr tranquila.
Mas um dia eu estava tomando uma cerveja na lanchonete, e ele entrou. tomou lá alguma coisa, conversou um pouco, passou um tempo e, como acontece nos botecos,
A cachaça puxa conversa entre grandes amigos desconhecidos e nós acabamos conversando.
Tudo o que eu não queria aconteceu. eu fiquei sabendo que ele morava em cima da lanchonete
E que aquela jovem que por vezes o acompanhava era sua filha e fiquei até sabendo o nome dela: Karol. e que ele vivia sozinho num quarto da casa enorme sobre a lanchonete.
Eu não queria saber de nada, não queria conhecê-lo.
Queria apenas vê-lo passar às vezes, tranquilo, indo e voltando.
Depois disso, continuei trabalhando na oficina de motos mas a magia nunca mais aconteceu.
Nunca mais o vi passar com seu ar tranquilo empurrando o dia com seu andar direto movendo a vida com seu olhar à frente vislumbrando o futuro.
Quando eu