O Efeito do Crer. A Mente Pode Curar? (Um comentário sobre a Eficácia Simbólica)
O antropólogo então o descreve como um longo encantamento, em forma de canto, de 18 páginas, divididos em 535 versículos, de autoria do povo Cuna, habitantes do território da República do Panamá. Tal encantamento tem como objetivo ajudar em um parto difícil, sua execução é excepcional e rara, feito a pedido de uma parteira que não consegue realizar o parto com êxito.
O canto é feito por uma espécie de médico inato, um xamã, denominado na cultura Cuna de nele. O encantamento se inicia por uma descrição da perplexidade da parteira, da sua visita ao nele, a partida do xamã ao encontro da parturiente, sua chegada, preparativos, invocações e confecção das imagens sagradas (nuchu), que representam espíritos protetores que o ajudam e que o xamã direciona e conduz à morada de Muu, força responsável pela formação do feto.
O encanto é a busca do purba perdido, a alma da futura mãe que Muu, ultrapassando suas atribuições, se apossa indevidamente. Depois de inúmeros feitos e um combate o purba é restituído e o parto se dá, o canto tem seu fim na pronunciação de recomendações tomadas para que Muu não se vá depois de seus visitantes, por fim, as relações com Muu voltam a ser amistosas e a ordem é restabelecida.
Lévi-Strauss ainda ponta um aspecto importante do texto tribal e a interpretação de Wassen e Homer em relação às expressões ritualísticas, nas quais “o caminho de Muu” e a “Morada de Muu” se referem à vagina e ao útero da mulher grávida e não a um mítico caminho ou a uma morada mítica. A jornada em busca de Muu e todo o desdobramento, ou seja, a batalha que ocorre, através do canto, utiliza metáforas, há assim, uma geografia paralela do mundo dos espíritos, com o caminho do bebê do útero e sua