O desenvolvimento do juízo moral e da afetividade na teoria de piaget
1) Regras do Jogo
Na primeira parte do capítulo "O desenvolvimento do juízo moral na criança", Yves de La Taille traz uma análise do que para Piaget é paradigmático para a moralidade humana: os jogos coletivos infantis de regras. Segundo La Taille, para Piaget isso ocorre pois os jogos são atividades interindividuais reguladas por normas herdadas de gerações anteriores que, embora não possuam em si um caráter moral, o respeito a elas está diretamente ligado a moral do sujeito. Entretanto, essa consciência de normas e regras leva um certo tempo para ser desenvolvida pela criança. Piaget separa em três diferentes fases esse desenvolvimento: a da anomia, a da heteronomia e a da autonomia. Na primeira fase, a anomia, a criança de até cinco ou seis anos de idade se interessa pelas brincadeiras muito antes para satisfazer seus interesses motores e fantasias simbólicas do que para participar de uma atividade coletiva, não seguindo assim as regras que a essas atividades são impostas. Já na fase da heteronomia, a criança de nove ou dez anos de idade apresenta interesse em participar dessas atividades coletivas e regradas, mas não vê tais regras como um contrato firmado entre os jogadores e sim como algo imutável imposto a muito tempo atrás. Nessa fase, a criança não percebe a si própria como legisladora de regras que possam ser legitimadas por um mútuo acordo. Essa estranheza em relação às regras e ao seu sentido faz com que, muitas vezes, essas não sejam seguidas tão a risca e abrem espaço para situações onde as crianças afirmam, ao final de uma partida, que todos ganharam. Tais características se opõe as características da terceira e última fase, a da autonomia. Nessa fase, a criança joga respeitando fielmente as regras e compreende que elas são fruto de mútuos acordos entre os jogadores, onde cada uma é