o desaparecimento do negro da argentina
A formação da Argentina moderna apoiou-se, simbolicamente, na imigração europeia. A cultura argentina é apresentada, via de regra, sob a fórmula sintética do crizol de razas - a mistura do vernáculo criollo com os costumes dos imigrantes europeus. A chegada, entre 1850 e 1930, de grandes contingentes de europeus ao país integra o mito da construção nacional, transformando esses imigrantes em heróis míticos.
O modo de conceber a população local, de pensar os outros, engendrou uma tendência a negar qualquer heterogeneidade e a imaginar uma suposta homogeneidade nacional, europeia e branca. Dentre os muitos eventos de difícil compreensão na história argentina, um, certamente, é o da "desaparição" dos negros. Segundo parte da literatura existente, o "mistério da desaparição dos negros da Argentina" explica-se por um processo de invisibilização, de negação radical do outro, gerando uma forma particular de racismo.
O censo realizado em 1778 na cidade de Buenos Aires revelou que 30% da população era composta por negros e mulatos - ou 7.256 indivíduos, em um total de 24.363. Nas décadas seguintes, o número absoluto de negros, pardos e mulatos não se reduziu de forma expressiva, mas diminuiu sua presença em termos relativos.
Muitas tentativas têm sido feitas, a partir de enfoques historiográficos, para explicar o fenômeno. Segundo Reid Andrews (1989), as explicações se articulam sobre quatro eixos: a) a abolição do comércio escravista em 1813, que fez com que declinasse o tráfico de negros; b) a morte dos negros nas guerras do século XIX (contra o Brasil e contra o Paraguai, além dos conflitos internos); c) o fato das mulheres negras, diante da escassez de homens de cor, verem-se obrigadas a se "misturar" - dar à luz filhos de pele clara era uma forma de garantir-lhes alguma possibilidade de ascensão social ( sem contar o grande aporte demográfico de homens europeus depois de 1850, devido às imigrações ultramarinas), e d) as baixas taxas de