O debate sobre o Utilitarismo
Rachels propõe um debate sobre uma questão delicada que, ao longo do texto, será muito bem defendida como também contrariada. Logo no início do texto o autor começa fazendo referência ao utilitarismo clássico que, diferentemente de Kant, propõe um olhar sobre as ações moralmente certas e erradas a partir de suas consequências. Sendo assim, para avaliarmos tais consequências nada seria mais importante que a porção de felicidade envolvida na mesma. Nesse contexto, o autor pontua o fato de que “a felicidade de cada pessoa conta da mesma maneira” (p.152).
A grande questão envolvida nessa visão utilitarista é o conceito de felicidade. Para avaliarmos as consequências das ações em função da felicidade é preciso que tenhamos uma noção clara do que é felicidade. Entretanto, ao apresentar a visão clássica do utilitarismo, o autor não deixa isso indicado.
O princípio de maximização da felicidade, sendo esta a isenção de dor e a riqueza de prazeres, é conhecido como uma visão hedonista. Trata-se de uma teoria fortemente defendida por diversos filósofos, mas que possui uma série de falhas. Rachels exemplifica uma dessas falhas com o caso de uma pianista que perde os movimentos das mãos em um acidente de carro. Nesse caso, o hedonismo diria que isto (a situação) é mau “porque a torna infeliz” (p.153). Entretanto, não trata-se de uma ação má, mas de uma fatalidade, ou seja, uma situação neutra.
A partir desse e de outros exemplos, o autor conclui que o hedonismo tem uma visão distorcida da felicidade. Afinal, não desejamos todas as coisas como forma de obtenção da felicidade, pelo contrário, “a felicidade é uma resposta que damos à obtenção de coisas que reconhecemos que são boas” (p.154). Sendo assim, o autor vai abordar um série de argumentos antiutilitaristas que relativizam a ideia de que as consequências são a única coisa que importa para determinar o que é moralmente correto.
O primeiro argumento