O CÓDIGO DO SERTÃO
“Luísa Maria de Jesus, de cinqüenta anos de idade mais ou menos, casada, natural do termo de Cunha e moradora deste termo, no Bairro de São José, onde vive em companhia de seu marido. Testemunha jurada aos Santos Evangelhos em um livro deles, na forma devida. Testemunha que sendo inquirida sobre o conflito havido entre Manuel Antônio, conhecido por Manuel da Ponte, e José Francisco, conhecido por José Mineiro, respondeu debaixo do juramento prestado o seguinte: que no dia sábado dezoito do corrente mês, ao meio-dia mais ou menos, achando-se ela depoente no Bairro do Rio do Peixe, para onde ela e seu marido Francisco Mariano e filhos haviam ido tratar de colher sua roça de milho, estava ela depoente em casa de sua filha de nome Crescência, quando ali passou Manuel Antônio e convidou ao filho dela depoente, de nome Antonio, que ainda não tem doze anos, para irem caçar paca, achando-se Manuel da Ponte armado de espingarda e acompanhado de cães para a caçada, a cujo convite anuiu seu filho, e então se dirigiram para o mato. Passado algum tempo, voltou o filho dela depoente e contou-lhe que Manuel da Ponte havia posto os cães no mato, mas que não tinham levantado paca, por isso que ia caçar em outro lugar, para o que de novo o convidou, mas que seu filho a este novo convite não anuiu e foi para a casa de Benedito Reis comer laranjas. Em seguida ela, depoente, tendo precisão de lavar roupas dirigiu-se para um córrego que ficava por baixo da casa de sua filha e aí ouviu o estampido de um tiro; então ela depoente lembrou-se que tinha necessidade de consertar uma camisa para também lavar e voltou para sua casa, quando ouviu uns cães acuarem; nesse tempo chegou seu filho Antônio e perguntou-lhe se Manuel da Ponte havia matado a paca. A esta pergunta respondeu-lhe ela que julgava que sim, porque tinha ouvido um tiro e acuarem os cães e à vista disso disse-lhe seu filho que decerto Manuel da Ponte havia matado a paca e que ia pedir-lhe um pedaço, ao que