O cristianismo europeu
O cristianismo surgiu na Palestina, ou seja, na Ásia ocidental, mas foi na Europa que ele mais se expandiu nos séculos seguintes. Sem dúvida, por muito tempo houve uma forte presença cristã no Oriente Médio, no norte da África, na região do Cáucaso e em outros locais, mas a expansão islâmica e uma série de circunstâncias políticas, demográficas e sociais fizeram com que o continente mais intensamente cristianizado fosse a Europa. Essa situação perdurou até o século 19, quando, graças ao esforço missionário, a fé cristã foi levada a todas as regiões do globo. Assim, durante a maior parte de sua história, o cristianismo foi identificado, para o bem e para o mal, principalmente como uma religião europeia. O objetivo desta análise é apresentar inicialmente alguns aspectos negativos e em seguida algumas contribuições positivas dessa longa trajetória cristã em solo europeu. Um legado doloroso
Um dos fenômenos negativos associados à igreja cristã desde o período antigo foi o espectro da intolerância. Isso não estava presente na mensagem de Jesus, cujos ensinos se centraram no amor, no altruísmo e no perdão até mesmo aos inimigos. Porém, a partir do quarto século, com a aliança entre igreja e estado na época do imperador Constantino, surgiu o uso da força e da coerção contra os dissidentes do cristianismo majoritário, oficial. Os primeiros indivíduos a serem executados como hereges na história da igreja foram o espanhol Prisciliano, bispo de Ávila, e seis de seus simpatizantes, em 385. Outro caso conhecido no período antigo -- esse de proporções mais amplas -- foi a repressão estatal contra os donatistas do norte da África, no início do quinto século. Durante a Idade Média, intensificaram-se as perseguições da igreja e do estado contra indivíduos e grupos considerados heterodoxos. A partir do século 12, o crescimento da seita dos cátaros ou albigenses no sul da França levou diversos papas a aperfeiçoarem os métodos de supressão da