Carlos magno
* João Ferrão
Doutorado em Geografia Humana pela Universidade de Lisboa. Investigador principal do Instituto de Ciências Sociais.
O termo Europa passa, assim, a corresponder a um espaço geográfico. Mas a configuração do mapa do período de apogeu da civilização grega, atingido com Alexandre, o Grande, explica por que razão, nessa altura, não era atribuída qualquer relevância política, estratégica ou cultural ao espaço designado por Europa. Também para os romanos a Europa constituía um espaço periférico ocupado por bárbaros. O seu território de referência era, naturalmente, o Mediterrâneo, significativamente apelidado de Mare Nostrum. Parece ter sido Estrabão (58 a. C.-25 d. C.) o autor da primeira descrição das condições naturais (relevo, clima, etc.) em que viviam os povos europeus. Apesar de apelidados de bárbaros, considerou-os intelectualmente superiores aos povos de outros continentes. Mas as referências ao termo Europa eram raras, confinando-se praticamente a trabalhos realizados por geógrafos. E a persistente influência do mapa de Eratóstenes contribuiu, sem dúvida, para o prolongamento da ideia de Europa como uma periferia pouco qualificada. A Europa descobre-se a si própria: cristianismo, território e consciência europeia
Em 711, os árabes atravessam o estreito de Gibraltar, penetram na Península Ibérica e iniciam a sua expansão para norte, até à Gália, dando lugar a um período de ocupação que em algumas áreas se prolongará por diversos séculos. Graças aos conhecimentos trazidos da Grécia antiga, várias dessas áreas tornar-se-ão focos culturalmente bastante avançados. É como reacção a este movimento de expansão árabe que o termo Europa irá adquirir, pela primeira vez, uma conotação política e cultural. A consciência europeia nasce, portanto, por oposição a forças externas bem definidas, consideradas hostis: os árabes e a sua cultura muçulmana. Ser europeu é, então, ser cristão. Os elementos