O CONTO DO PADRE DA FREIRA
A fuligem enegrecera as paredes do quarto e da sala, onde tomava as suas refeições frugais. Ela não precisava de molhos picantes, visto que não procurava agradar ao paladar com requintes: sua dieta estava de acordo com a pobreza da choupana. Em compensação, jamais adoecera por causa dos excessos; seus remédios eram a moderação, o exercício e um coração satisfeito. A gota nunca a impediu de dançar, nem jamais foi vítima de derrame. Não bebia vinho de espécie alguma, nem branco nem tinto, e somente punha à mesa o branco e o preto, ou seja, leite e pão de centeio, que tinha com fartura (porque devia ser uma leiteira), acompanhados de torresmos e, de vez em quando, um ou dois ovos.
Sua casinha tinha um quintal todo cercado por ripas e rodeado por um rego seco, onde criava um galo, chamado Chantecler, que cantava melhor que qualquer outro da região. Sua voz era mais alegre que os alegres órgãos nos dias de missa; e seu canto merecia mais confiança que os relógios ou os sinos da abadia. Sabia, por instinto, as ascensões do equinocial* em todas as cidades, e, a cada quinze graus que ele subia, cantava de maneira irrepreensível. Sua crista era mais rubra que o coral mais fino, e com ameias como os muros de um castelo; preto era o bico, luzente como o breu; nos pés e nas pernas tinha o azul celeste; as unhas eram brancas como a flor do lírio; e as penas cintilavam como puro ouro polido.
Esse galo cortês era senhor de sete galinhas, todas ali para servi-lo; eram suas irmãs e suas amantes, exatamente iguais a ele em suas