Os Contos da Cantu ria
Uma romaria que passou à história embora jamais tenha acontecido de verdade é o tema de uma das maiores obras da literatura universal, obra essa que me apaixona há muito tempo e que hoje quero compartilhar com você: trata-se de “Os Contos de Cantuária” (“The Canterbury Tales”) escrito em 1368, ou seja, há mais de seiscentos anos por Geoffrey Chaucer, escritor inglês, funcionário da corte na época de Ricardo II.
“Os Contos de Cantuária” tem como fio condutor uma romaria que vinte e nove peregrinos resolvem fazer juntos ao túmulo do Santo Thomas Beckett. Combinam então contar histórias para encurtar a viagem e se distraírem no trajeto. Essa estrutura narrativa era comum na literatura medieval e ainda continua sendo uma boa forma de contar histórias nos dias de hoje.
O melhor do livro é que ele mostra um variado panorama da vida medieval, uma vez que diferentes pessoas estavam representadas nessa animada companhia: um cavaleiro, um moleiro, um monge, um padre, uma freira, um mercador, um estudante, um proprietário de terras, um médico, um magistrado… Cada um, ao contar sua história, traz elementos da sua profissão, da sua visão de mundo, enriquecendo o relato e dando exemplos da cultura medieval e das atividades humanas em narrativas palpitantes, cheias de vida e, muitas vezes, picarescas, como no Conto do Moleiro, repleto de leves e graciosas obscenidades.
Um dos meus preferidos é o Conto da Mulher de Bath, onde a narradora defende que os prazeres do sexo não devem ser prerrogativa exclusiva do sexo masculino, tendo as mulheres o direito de se divertirem da mesma forma que os homens. A defesa que ela faz dessa tese antes de narrar o conto propriamente dito é ousada, inteligente e engraçadíssima, tornando a mulher de Bath uma das grandes personagens da literatura universal.
Um dos traços mais importantes dessa obra é que, numa época em que os livros eram escritos em latim, considerada a língua oficial, a língua culta, Chaucer escreveu em