O chão da palavra
Cada língua quando extrapola a simples comunicação e passa a ser uma expressão, cada literatura, cada uso poético das palavras, contribui de modo particular para a invenção de imagens; mas imagens não no sentido do que enxergamos quando abrimos os olhos e sim imagens no sentido imagético, da ideia que formamos no pensamento a respeito de alguma coisa, no sentido de construção e experiência de algum sentimento. Do mesmo modo que somos capazes de “ver” em nossa mente aquilo que escrevemos, escrevemos sobre aquilo que sentimos. A leitura é acompanhada por algum grau de visualidade e imaginação. Desta maneira, a afirmação “O chão da imagem é a palavra” é o contrapondo da célebre frase “uma imagem vale mais que mil palavras”. Se nesta, a imagem toma o lugar de uma vasta descrição, na primeira é a sucessão de descrições que nos permitirá formar uma imagem carregada de sensações. “Na metade dos anos cinqüenta, lembra, ‘uma coisa era clara: o cinema existente mão expressava a nossa realidade, não tinha representatividade cultural’. Para tanto, era preciso um cinema como a literatura dos anos trinta. (...) A literatura dos anos trinta havia dado uma expressão estética aos problemas do povo.” (AVELLAR, p.91).
Exatamente como os modernistas da Semana de 1922 propuseram uma nova forma de pensar o Brasil, de buscar algo genuinamente nacional, algumas décadas depois, os cineastas nacionais inventam sua forma própria de fazer cinema, de expressarem-se, abolindo as formas tradicionais de fazer cinema e contar estórias. E este novo jeito de fazer cinema vem intimamente ligado à arte de escrever. Do mesmo modo que o escritor modernista Oswald de Andrade preconizava um modo de se expressar que se afastasse do academicismo e se aproximasse do modo de falar corriqueiro e informal, o cineasta Glauber Rocha cunha frase “Uma câmera na mão e uma