O Castelo dos Destinos Cruzados
Impressionante tour de force de um autor sempre inquieto, sempre em busca de novas formas narrativas, este livro de Italo Calvino tem o fascínio irresistível dos grandes quebra-cabeças. “Façam seu jogo, senhores”, é o que nos parece dizer o autor, convidando-nos assim a mergulhar na encruzilhada das possibilidades da narração e da existência.
As cartas estão jogadas. E tal como o lance de dados de Mallarmé, elas jamais abolirão o acaso. Disso parece falar Italo Calvino em O castelo dos destinos cruzados: da aleatoriedade do mundo, da multiplicidade dos destinos, das probabilidades dos encontros, do jogo combinatório dos significados e das existências.
Em um castelo — ou será uma taverna? —, algumas personagens sentadas em torno de uma mesa contam suas histórias. Mas como estão impossibilitadas de falar por algum motivo desconhecido, usam um baralho de tarô para narrar suas aventuras e desventuras. As mesmas cartas, porém, servem para várias histórias, e cada uma delas comporta múltiplas interpretações. Qual a mais verdadeira, não importa. Nos relatos da taverna — ou será um castelo? —, o escritor ilusionista embaralha os destinos e se entrega à vertigem dos jogos combinatórios, ao prazer cerebral de colocar as cartas umas ao lado das outras para formar uma espécie de quadrado mágico, sempre aberto, porém, a novas leituras.
Mais uma vez, como em Se um viajante numa noite de inverno e Cidades invisíveis, Italo Calvino tece uma rede de narrativas curtas onde aparece o que ele mesmo chamou de “multiplicidade potencial do narrável”. Outra não é a definição do próprio Calvino para O castelo dos destinos cruzados: “Uma espécie de máquina de multiplicar as