o brincar
Cipriano Carlos Luckesi
O conceito de brincar que perpassa nosso cotidiano é bastante moralista. Aqui e acolá dizemos ou ouvimos dizer: “Agora, acabou a brincadeira; vamos trabalhar”; “Aqui não é lugar de brincadeira”; “Isso não é uma brincadeira”; “Vocês estão brincado, mas é preciso levar isso a sério”. Essas e outras expressões não fazem jus ao conceito de brincar. Ao contrário, desqualificam-no.
Esse juízo moralista cotidiano infantiliza o ato humano de brincar, tipicamente criativo, ao mesmo tempo em que desqualifica a infância, no sentido de dizer que o que se faz nessa fase da vida não tem uma importância significativa. E, com certeza, o tem.
Donald Woods Winnicott aborda um fenômeno psicológico na criança, mas que podemos dizer que ele pertence ao ser humano em qualquer faixa de idade, que nos ajuda a compreender bastante bem o significado do brincar. É o fenômeno do espaço potencial entre a experiência subjetiva e a sua expressão objetiva. Winnicott denominou aquilo que observou nesse espaço de fenômeno transicional, deixando claro que, através de objetos transicionais, a criança transita da “lei da mãe” (subjetividade) para a “lei do pai” (mundo objetivo e estruturado). Esse trânsito se dá pelo brincar com os objetos transicionais.
Brincar aqui significa agir lúdica e criativamente, de tal forma que vamos constituindo nossa passagem de um estado fusional com a mãe para um estado de independência, no espaço paterno. Importa não colocar valores em nenhum desses estados, pois que, se isso fizermos, vamos cair na armadilha do feminismo ou do machismo. Pura e simplesmente são fenômenos da vida humana, sem que um seja melhor do que outro.
O espaço potencial entre a subjetividade e sua expressão objetiva se dá na experiência da criança, do adolescente, assim como na do adulto. E é nesse espaço potencial que se dá o brincar da criança, do adolescente e do adulto. Todos brincam, ou seja, todos, em conformidade com