O Ato de ler e a formação do leitor crítico
BAKHTIN, M.; ECO, U.; MARCUSCHI, L. O ato de ler e a formação do leitor crítico.
A leitura é um processo complexo que envolve compreensão e capacidade de interagir com o interlocutor mediante o uso da palavra. Nesse processo, o texto não pode ser compreendido como algo pronto e acabado, pelo contrário, deve ser entendido como uma estrutura em acabamento, com lacunas, e que necessita que alguém o complete e atribua um caráter significativo. Pressupõe-se, dessa forma, a recepção pelo outro, pois assim o texto será completo, de forma que se um texto é marcado pela sua incompletude o ato de ler o tornará completo, destarte, a leitura e compreensão daquilo que se lê são indispensáveis à total interpretação do texto como um todo. Nesse processo admite-se o leitor como peça elementar no processo de leitura e na interação leitor-texto, de forma tal que essa interação se faça presente desde o início do texto e mediante tal possa o leitor atuar estrategicamente fazendo previsões do movimento do outro. Ao escrever o locutor percebe e compreende o seu destinatário, sendo isto imprescindível não só à sua própria capacidade comunicativa concreta, como também ao seu próprio potencial de expressão. O leitor pode se instituir no texto sob duas formas, quais sejam: sob o nível pragmático e sob o nível lingüístico-semântico. Sob a primeira, o texto enquanto objeto veiculador de uma mensagem, leva em consideração a percepção do leitor, mobilizando estratégias de forma a tornar possível a comunicação. Sob a última, tem-se o texto como uma “potencialidade significativa” que se atualiza através da leitura, necessitando que o leitor esteja no próprio texto e o locutor use o dialogismo de forma a reger a linguagem corretamente, dando concretude àquilo que se lê e expressando-se como num diálogo. O leitor recria, a partir de algumas indicações e pistas dentro do próprio texto, lacunas vazias de forma a desvendar aquilo que o locutor deixou,