O Anão
Aimée, quieta, observava o céu.
Hoje é uma noite quente, parada, de verão. Vazio o cais de concreto, as luzes vivas, vermelhas, brancas, amarelas, qual insetos sobrevoando o vazio de madeira. De pé, ao longo do passeio, os olhares fixos sem nada enxergar; sem conversar, os encarregados das barracas parecem bonecos de cera, derretendo. Dois fregueses por ali passaram, há uma hora. Agora, os dois solitários, na montanha russa, soltam gritos assassinos quando despenca o carrinho noite adentro tão esplendorosa; em volta, um vazio atrás do outro.
Devagar, Aimée passou pela corrente, umas poucas argolas de madeira, gastas, grudavam-lhe nas mãos úmidas. Atrás de um balcão de ingressos voltado para o LABIRINTO DOS ESPELHOS, parou. Viu-se grosseira, equivocadamente representada nos três espelhos ondulados, do lado de fora do
Labirinto. Do lado de lá, diluídas no corredor, mil réplicas cansadas de si própria, imagens calorosas em meio a tanta frieza visível.
Entrou na bilheteria e ficou a contemplar, por bom tempo, o pescoço magro de Ralph Banghart. Entre dentes compridos, desiguais, amarelos, Ralph mordeu o cigarro apagado e abriu, em cima do guichê, uma cartada puída de paciência.
Quando a montanha russa rilhou e, novamente, despencou em terrível avalanche, Aimée recebeu sinal para falar.
— Que tipo de gente anda em montanha russa?
Ralph Banghart rodopiou o cigarro na boca por uns bons trinta segundos.
— As pessoas querem morrer. Essa montanha russa é a melhor coisa que existe para se morrer.
Sentado, ficou a ouvir os sons surdos dos disparos dos rifles do tiro ao alvo. — Todo esse negócio de parque de diversões é coisa de maluco. Por exemplo, o anão. Você já viu o anão? Toda noite, paga sua moeda de dez cents, entra logo no Labirinto dos Espelhos, vai até lá no fundo, até o Salão da
Luísa Violão. Você devia ver esse nanico. Meu Deus!
— Claro. — Aimée se lembra. — Sempre imaginei como é que deve ser a gente ser anão. Sempre tenho