O Ad O E A Eva Da Ordem Neoliberal
Essa situação de polarização forçou uma corrida armamentista e tecnológica entre os mundos capitalistas e comunista e no limite levou ao esgotamento do bloco soviético, cuja rigidez centralista, acentuada pela corrupção crescente e pela intolerância repressiva da máquina partidária , acabaria por tornar seus quadros dirigentes imensamente impopulares. Esse declínio dos regimes comunistas se deu em paralelo à ascensão de dois líderes que avocaram para si os méritos da “vitória do capitalismo.” Os novos personagens foram o presidente Ronald Reagan, dos Estados Unidos, e a primeira-ministra Margaret Thatcher, da Grã-Bretanha.
Thatcher em especial se tornaria a madrinha do novo contexto político. Decretando a falência da idéia de socialismo, ela pronunciou o que se tornaria a fórmula básica do novo credo neoliberal: “Não há e nem nunca houve essa coisa chamada sociedade, o que há e sempre haverá são indivíduos.” Fórmula que ela completou com um princípio lapidar, de fundo moral, para abençoar o espírito da concorrência agressiva: “a ganância é um bem” (“greed is good”). O fato é que, na sua oportuna aliança com Ronald Reagan, ao longo dos anos 80, ambos efetuaram uma mudança drástica do discurso conservador, invertendo os termos do debate político.
Até então as posições radicais monopolizavam a simbologia da emancipação e da justiça social, apostando todas as cartas nos princípios da esperança e da solidariedade, num mundo coeso por impulsos de liberdade, igualdade e fraternidade. Aos conservadores restava tachar essa atitude de ilusória, de lunática, de chamariz para a implantação da tirania totalitária. A operação ideológica construída pelo anexo Reagan-Thatcher mudou completamente a configuração do debate político. Sua maior proeza foi metamorfosear os termos da sua aliança num amalgama cultural de alcance místico. Fortemente apoiados em tradições puritanas exclusivas e autocentradas da cultura anglo-saxônica deslocaram seus