D.Dinis, Mensagem de Fernando Pessoa
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver. Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar. Fernando Pessoa
Sendo o sexto poema do capítulo “Os Castelos”, trata-se de um poema da primeira parte da Mensagem (o Brasão).
É um poema constituído por duas quintilhas, de métrica irregular (versos decassilábicos), à excepção do segundo verso de cada estrofe, que possui oito silabas métricas. Quanto à rima deste poema é consoante, variando entre a rima pobre e a rima rica, obedecendo assim ao seguinte esquema rimático: abaab, com rimas cruzadas, emparelhadas e interpoladas.
O poema encontra-se dividido em duas partes lógicas, correspondendo a cada uma das duas quintilhas. Na 1ª parte são reconhecidas duas facetas de D. Dinis: a de poeta e a de criador das condições necessárias às navegações que, tal como o seu cognome indica, “O Lavrador”. Foi D. Dinis o responsável pelos pinhais plantados dos quais viria a madeira necessária para a construção das naus para os descobrimentos. D. Dinis representa a certeza adivinhada do futuro, pois os pinhais mais tarde iriam contribuir para a permissão da expansão portuguesa, o que criaria a riqueza do nosso império. Na 2ª parte mantém-se a preocupação por parte do sujeito poético de nos fazer chegar o cantar do jovem rei e o “marulho obscuro” dos seus pinhais. Na perspectiva do rei, embora o pressentimento fosse obscuro, pressentia-se que o que estaria para vir era algo grande. É também remetido para o período esplêndido das Descobertas e para a atração que o oceano sempre exerceu sobre um povo que é conhecido como