A viagem
Samuel Cavalcante e Orlando Ribeiro
CENA I – A PARTIDA
CENÁRIO – UM RELÓGIO DE PAREDE SEM PONTEIRO.
ATOR B com mochila pronta esperando ATOR A . Olha com freqüência para o relógio. Lê o livro A VIAGEM. ATOR A sem pressa arruma sua mochila. Pega sacola com lanche e vai até ATOR B. Senta e come o lanche.
ATOR B – (tenta se comunicar)... Percebeu que as pessoas não se falam?
ATOR A – Percebeu que a gente passa por aqui muito rápido?
ATOR B – Do que você está falando?
ATOR A – Da nossa passagem pela vida. Do sentido de estarmos aqui.
ATOR B – Às vezes a vida parece um palco vazio.
ATOR A – Nada é vazio, amigo.
ATOR B – Você me chamou de amigo.
ATOR A – Não cometerei a mesma gafe de novo.
ATOR B – Tudo bem. Vamos acabar correndo esse risco. A convivência leva ao conhecimento.
ATOR A – Eu falo do sentido de termos uma família, uma ordem geral da natureza.
ATOR B – Não entendo. Você parece que...
ATOR A – Eu não! Deus! O amor! A eternidade do significado que nós todos desconhecemos.
ATOR B – E o que isso tem a ver com nossa viagem? E o que é nossa existência diante do maior dramaturgo do universo?
ATOR A – Não sei. Talvez muitas das vezes que eu senti a pressão terrena, a tal da angústia... Foi nessas horas em que o tempo na terra mais demorou. E, nos instantes de felicidade, de bem-estar, evaporou-se. Nem percebi.
ATOR B – Você está estranho. Deixa de conversa fiada e vamos conferir as nossas coisas.
ATOR A – Você também deve ter sentido isso. Não?
ATOR B – Claro que não! Sei lá! Nunca pensei nisso!
ATOR A – A gente toma um ônibus, toma conta da gente mesmo, toma água, café, leite... toma parte num grupo escuso ou num comportamento adequado para o quadro... ”o quadro agradável!” E, toma no cu, é claro, por aqueles que traem nossa confiança demasiada.
ATOR B – Ou vamos conferir nossas coisas, ou não vamos mais pra lugar nenhum. E, eu não tomo no cu, não senhor!
ATOR A – Está certo... está certo. Queria apenas falar dessa correria