A teoria do romance - george lukacs
1461 palavras
6 páginas
Diante de um mundo que se apresenta ao homem como não mais regido por uma ordem pré-estabelecida, totalizante, fechada em si mesma, Georg Lukács aponta o romance como “a epopeia de uma era para a qual a totalidade extensiva da vida não é mais dada de modo evidente” (p. 55). No advento da era moderna, o homem se descobre como porta-voz de seu próprio destino, resultado de uma descoberta dolorosa: o mundo moderno é um mundo abandonado por Deus. Em A teoria do romance, Lukács propõe uma leitura histórico-filosófica para compreender o surgimento de uma nova forma literária, a tipologia romanesca, como fruto originário de seu tempo. Se, durante a era clássica, a forma predominante – a epopeia – reflete em sua composição a objetividade e a totalidade de uma vida pré-destinada por uma ordem de âmbito metafísico, nessa modernidade abandonada por Deus não há mais espaço para essa forma perfeita e total em si mesma: subjetividade e fragmentariedade, produtos de uma realidade que agora se apresenta como problemática, são incorporadas à estrutura do novo gênero. E, no entanto, é preciso deparar-se com uma questão para nortear nossa leitura d’A teoria: se por um lado o romance incorpora à sua forma tais características, diretamente influenciado por seu tempo, por outro, busca ainda assim a totalidade deixada para trás com a forma épica. Assim, pergunta-se: como ler o romance na sua busca pela objetividade e totalidade perdidas, como uma epopeia da era moderna, dada limitação imposta por seu momento histórico de produção? Arriscamos dizer que Lukács não propõe respostas, mas indagações. O gênero romanesco, “abstrato” (p. 75), tenta alcançar a objetivação por sua forma. No entanto, não há uma única leitura generalizante e válida para a forma romanesca que dê conta de compreendê-la do seu surgimento à contemporaneidade. Sua análise incidirá, portanto, na leitura de quatro possíveis “tipos” romanescos em “Ensaio de uma tipologia da forma romanesca”, baseando-se em D.