A superstição do divórcio e a historia da familia
Autor: G.K. Chesterton
É futilidade falar de reforma sem referência à forma. Tirando um exemplo do bolso do colete: nada me parece tão belo, tão maravilhoso, quanto uma janela. Todo caixilho é mágico, quer se abra ao oceano ou ao quintal; ele sempre está na fronteira do paradoxo e do mistério derradeiros da limitação e da liberdade. Se, contudo, eu seguisse os meus instintos, que me arrastam a desejar um número infinito de janelas, eu acabaria sem paredes. Aliás, diga-se de passagem, acabaria também sem janelas, pois a janela cria um quadro ao enquadrar o que por ela se vê.
Mas há um jeito mais simples de apontar meu erro, tão simples quanto fatal: eu quis uma janela, sem pensar se queria uma casa.
Hoje em dia, muito se fala em favor dessa luz e dessa liberdade, que podem perfeitamente ser simbolizadas pelas janelas; mais ainda por muitas vezes se tratar de iluminar e libertar da casa, do próprio lar. Muita gente apresenta desinteressadamente considerações bastante razoáveis, no caso do divórcio, mostrando-o como uma espécie de libertação doméstica. Na discussão do assunto, no entanto, tanto jornalística quanto generalizada, pulula a mentalidade que, de ponta-cabeça e ao acaso, deseja que haja apenas janelas, sem paredes. Dizem que querem o divórcio, sem se perguntar se querem o casamento.
Ora, para divorciar-se, em geral, parece ser necessário que se tenha passado pela formalidade preliminar de casar-se; a não ser que este ato inicial seja levado em conta, se poderia estar a discutir os penteados dos carecas ou os óculos dos cegos. Divorciar-se é, no sentido literal, descasar-se; e não há sentido em desfazer algo que não sabemos sequer se foi feito.
Talvez não haja pior conselho, no mais das vezes, que o de se fazer primeiro o que está mais à mão. É um conselho especialmente ruim quando significa, como em geral é o caso, que se deva remover o obstáculo mais próximo. É dizer que os homens não devem se comportar como homens,