A Roda Global
O que é a globalização, que provoca tanto medo, e o que se pode esperar dela
Antenor Nascimento Neto
O mundo não é mais como foi o de papai. Ouve-se falar num momento que as grandes corporações americanas estão demitindo dezenas de milhares de trabalhadores de olhos azuis e transferindo suas operações para países morenos, de mão-de-obra mais barata. Em outro momento, as novidades amargas vêm da Europa Ocidental. Numa região que conseguiu contornar as tensões do pós-guerra com a construção de uma rede de assistência social impecável e caríssima, o estado do bem-estar terminou quebrado e, ainda assim, o número de empregos disponíveis continua exatamente o mesmo nos últimos vinte anos. Países tão diferentes como a Espanha e a Finlândia enfrentam taxas de desemprego de quase 20%, enquanto os pequenos tigres da Ásia, como Cingapura, Taiwan e Hong Kong, ou alguns aprendizes, como Malásia e Tailândia, são apontados como modelos de agressividade econômica. Na segunda economia do mundo, a japonesa, vive-se uma recessão desde o início da década. As indústrias japonesas estão indo instalar-se em países com mão-de-obra mais barata, e, em casa, a taxa de desemprego oficialmente admitida é de 3,4%. No mundo do trabalho internacionalizado, o que mais há é desemprego. E quem fica à margem desse novo giro do capitalismo está condenado ao atraso e à miséria. Mas quem se adapta a ele nem por isso se sai bem. Vide o México, que cumpriu à risca a receita ortodoxa para integrar sua economia ao mundo avançado, no contrapé, foi à lona e quebrou.
O brasileiro toma conhecimento disso tudo e, se trabalha na indústria — especialmente na Grande São Paulo —, sente que o momento também não é bom para ele. A firma está toda cheia de boletins sobre reengenharia, programa de qualidade total e outros balacobacos da técnica gerencial. Tudo que ele vê na prática é demissão. Desde 1988, algo como 2 milhões de empregos sumiram na indústria brasileira — para reaparecer em número bem maior