A Riqueza das Nações - Capítulo 2

O Princípio que dá origem à divisão do trabalho
A divisão do trabalho é a consequência necessária da propensão humana a trocar uma coisa pela outra - e não é útil agora a discussão sobre a causa dessa propensão. Apesar de, como ocorre com um cachorro que faz mesuras ao dono para receber comida, seres humanos também usam a benevolência dos outros para conseguir o que querem, mas não dá para ser sempre dessa forma. Não é da benevolência de um açougueiro que conseguimos carne, mas da consideração que ele tem pelo seu interesse, daí a troca - te dou o que eu tenho e você quer pelo que você tem e eu quero. A negociação, a compra, o escambo e essa tendância a permutar geram a divisão do trabalho. Se alguém numa tribo é bom com arco e flecha, ele pode se especializar nisso e ser útil para a tribo com esse trabalho, bem como um que é bom de madeiramento para a cobertura de cabanas, um ferreiro ou um apascentador de gado, cada um passa a se habituar em ser útil para as outras pessoas com sua habilidade, podendo, então, permutar o que ultrapassar de sua produção do seu consumo pessoal, cada pessoa é estimulada a dedicar-se a uma ocupação e aperfeiçoá-la. E essas diferenças de habilidade não parecem vir de talentos naturais tanto quanto apenas do hábito, que começa a se adquirir por volta do sétimo mês de vida e também da formação, do costume, e antes disso, da divisão do trabalho. Mas antes que essa divisão existisse, todos precisaram executar o mesmo trabalho para ter o mínimo para seu sustento. As faculdades de raciocinar e falar são o que torna o ser humano capaz para a troca, observemos entre os animais, o mastim é forte, o galgo é rápido, o cão pastor é dócil, o spaniel é sagaz, e nada dessas características os fazem ser úteis uns aos outros, os diferentes "talentos" das espécies não são suficientes para o atendimento de cada uma delas, tendo estas que ajudar-se e defender-se sozinhas. Tendo, então, a capacidade de raciocinar, os seres humanos podem se beneficiar de