A religiosidade quinhentista
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A religiosidade portuguesa quinhentista/seiscentista1 O lento e progressivo desenvolvimento comercial2 em termos internacionais, iniciado no século IX, já bem estabelecido no século XI e consolidado no século XIII3, fazia com que todos fossem se ajustando, com a naturalidade que só a realidade impõe, ao novo modo de viver dele derivado. Vivida uma experiência, o homem a difunde por todas as outras atividades. A modelagem não se realiza segundo as classificações que fazemos das atividades, mas segundo o sujeito que as pratica. Assim, as características mercantis, assimiladas, produzem efeito sobre todo o comportamento humano. Lentamente, transformam o entendimento – e, por consequência, o comportamento – de tudo o que a vida comporta. Nós observamos esse processo: o teólogo teve que dar conta do confronto surgido entre fé e razão (ver a Escolástica); a organização social ultrapassa os limites do feudo e leva à cidade e ao Estado; surge com eminência o jurídico, o Direito confirmando as novidades da experiência social; um repensar confiante do homem sobre seu estado leva ao que se denominou Humanismo; o saber, centrado antes no sagrado, se traduz pela ciência. Dá-se uma transmutação dos valores, dos hábitos, das instituições. Acompanhar esse processo significa observar as ações e reações, explicar como uma foi preponderando sobre as outras, sem contudo fazê-las desaparecer. O que, antes, se oporia, agora se compõe, e se impõe. Há uma reinterpretação de todos os fazeres, ao impulso da experiência melhor sucedida.
Convém analisar a experiência mercantil, condição de entendimento da transformação cultural da Europa. O comércio se faz de coisas: alguém vende, alguém compra alguma coisa. O europeu começou a produzir, alimentos e tecidos sobretudo, para além da necessidade de consumo. Esses foram o objeto da primeira experiência. Vender pressupunha fazer chegar o objeto ao possível comprador, convencê-lo do proveito da compra, tirar proveito do resultado obtido.