A questão agrária do Pará
Além da águas do mês de março, o Pará vive dias de tensão na luta pela terra, em particular no sudeste do estado. A ocupação de fazendas em nome do grupo Santa Bárbara Xinguara S/A, que integra o portfólio do banco Opportunity, de Daniel Dantas, recrudesceu o clima e mobilizou o setor agropecuário nacional.
A mobilização contou com a presença da representante máxima da categoria, a senadora Kátia Abreu (DEM/TO), da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Com generosa cobertura da mídia, apesar do fato inédito da condenação massiva de quase 30 fazendeiros por trabalho escravo, a senadora e a entidade de representação da categoria local pediram junto a justiça a intervenção federal para o cumprimento de cerca de cem liminares de reintegração de posse.
Mas, o universo rural paraense é mais que cumprimento de liminares de reintegração de posse. Faz-se necessário investigar a legitimidade dos títulos das áreas em disputa, a indústria de grilagens de terras que eternizam fantasmas como Carlos Medeiros, que tem em seu nome 35 milhões de hectares.
E como tratar das chacinas no campo e a morosidade no processo de investigação dos articuladores de tais crimes?
É justo na região em pauta, o sudeste do estado que os crimes contra camponeses proliferaram com vigor nos anos de 1980, enquanto a União Democrática Ruralista (UDR) existiu.
Urge refletir sobre o trabalho degradante e os passivos ambientais, e em particular o pano de fundo que induz a tais situações e o papel do Estado como indutor de atividades que disseminam tal quadro.
Tem sido surpreendente a postura adotada pelos que, de responsáveis pelas tragédias no campo paraense, passam a se auto-afirmar como defensores do estado democrático de direito. Referimo-nos aos últimos acontecimentos no Brasil e no Pará envolvendo a questão agrária.
Já era de conhecimento de todos e todas, que nosso estado tem, como fruto do modelo de desenvolvimento instaurado há décadas na região,