Questão agraria

Nesta coletânea, organizada pelo Professor José Graziano, temos a possibilidade de tomar contato com as originais idéias deste grande pensador que foi Ignácio Rangel. Autodidata em economia, o texto surpreende não somente pela originalidade das idéias, mas também pela atualidade que possuem, ainda que seus primeiros trabalhos tenham sido escritos nos anos 50. Talvez, a surpresa, para os que pouco tiveram contato com sua produção, está no fato de reconhecer ali interpretações e propostas que foram incorporadas por importantes pensadores atuais da questão agrária brasileira e hoje, sem nos darmos conta, difundimos muitas de suas idéias sem nem mesmo reconhecer a autoria. Esse é, portanto, um dos méritos da coletânea organizada e prefaciada pelo Professor Graziano, que além de nos oferecer num mesmo trabalho textos dispersos de Rangel, nos permite dar crédito a muitas das interpretações sobre o desenvolvimento capitalista da agricultura que circulam nos textos e debates atuais.
Assim, como o próprio título da obra já revela, a intenção do organizador foi selecionar os textos sobre a questão agrária e suas relações com a industrialização e urbanização brasileira. Por esse critério são selecionados quatorze textos, organizados cronologicamente a partir da data de publicação, iniciando-se com “Industrialização e agricultura”, de 1955, e terminando com “A queimada e a ecologia” de 1989, seu último texto sobre a questão agrária. Rangel faleceu em 1994, conseqüência dos problemas cardíacos que o acometeu desde os anos 70.
Naquele primeiro trabalho, um dos principais escritos publicados, nos ensina o maranhense de São Luís, que as relações entre a agricultura e a indústria durante o processo de industrialização, implica na dissolução de uma estrutura produtiva quase que auto- suficiente e na apropriação urbana/industrial de certas atividades. Ou seja, para Rangel, o processo de industrialização seria um processo de desorganização de uma economia natural para a