A quarta dimensão do quadrado
Tal como se oferece ao espírito, do ponto de vista plástico, a quarta dimensão seria engendrada pelas três medidas conhecidas: ela representa a imensidade do espaço eternizando-se em todas as direções, em determinado momento. É o próprio espaço, a dimensão do infinito; a quarta dimensão dota os objetos de plasticidade.
Guillaume Apollinaire. Os pintores cubistas; meditações estéticas (1913)
Na geometria poética de José Renato, o apótema continua a respeitar o elemento basilar da disciplina euclidiana. Mas, potencializado em sua construtividade, o apótema do quadrado intitula e passa a proporcionar o elemento a partir do qual se insinuam cubos no espaço. O quadrado é a partida, o primeiro passo, rasteiro, bidimensional, pictórico, a guardar cores primárias nos avessos. E da pintura oculta nasce, então, a escultura pintada. O artista nos evidencia, uma vez mais, que as categorias da arte realmente se expandiram, explodiram, podendo até gerar-se, uma à outra, na ação.
No quadrado, habitam tantos cubos imaginários quantas são as insinuações volumétricas de arestas e superfícies que o olhar do espectador se dispuser a encontrar ou preencher no vazio sugerido pela forma. A perspectiva criativa, didaticamente exposta nas maquetes pequeninas – cuja execução ele domina como poucos –, parece querer nos mostrar que sempre foi possível concebê-los assim. Nosso olhar contemplativo é que não havia privilegiado ainda o percurso dinâmico que o artista descobriu na experiência lúdica de dobras e recortes mágicos, pois são eles que transmudam a quadratura em formas cúbicas. Daí, o apótema filosófico, a sentença lapidar: o grande artista nos ensina a ver. Ele nos convida a aguçar um olhar fabriqueiro, participativo, devotado à boa fé das estesias. Bachelard diria que ele reinventa o mundo conhecido em nós.
Mas não são cubos perfeitamente desenhados ou esculpidos, pois não se trata de um exercício ou de uma aula de geometria espacial. São cubos,