A poesia mística de Adélia Prado
“A gente tem sede de infinito e de permanência, então, esse ser que assegura a permanência das coisas, é que eu chamo de Deus. É o absoluto.”
Adélia Prado
Órfã na janela
Estou com saudades de Deus, uma saudade tão funda que me seca.
Estou como palha e nada me conforta.
O amor hoje está tão pobre, tem gripe meu hálito não está para salões.
Fico em casa esperando Deus, cavacando a unha, fungando meu nariz choroso, querendo um pôster dele, no meu quarto, gostando igual antigamente da palavra crepúsculo.
Que o mundo é desterro eu toda vida soube.
Quando o sol vai-se embora é pra casa de Deus que vai,
Pra casa onde está meu pai.
Adélia Prado retrata em seus versos o reflexo de sua alma que está com saudades de Deus. Sua alma sedenta do Altíssimo, pode ser comparada ao Hino dos filhos de Coré na Sagrada Escritura em que clama: “Como a corsa anseia pelas águas vivas, assim minha alma suspira por vós, ó meu Deus. Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo.” (Salmo 41,1-3) O ser criado por Deus carrega um vazio imenso dentro de si que só Deus é capaz de preencher. Como se tem saudades de quem nunca se viu? Dentro do homem existe um universo muito maior, muito mais extenso e profundo que o universo físico segundo os beneditinos. Porque Deus está dentro do homem, cada alma é o lugar teológico de Deus, a Sua habitação. Quando se sente órfã, é porque sente que Deus é pai, pai amoroso e que nesse momento não sente sua presença. Há momentos em que o homem não sente a presença de Deus. É a chamada “Noite Escura” segundo São João da Cruz. Quanto é necessário atravessá-la para alcançar a união divina. Trata-se do calvário espiritual em que a alma se livra de si mesma para se unir a Deus. O amor está pobre, ou seja, se Deus é amor e não se sente Sua presença, logo não sente Seu amor. O amor é Deus, só d’Ele vem o que precisamos. Sem Deus nada é capaz de nos confortar, é insuportável viver sem o amor de Deus. É como