O Nascimento do poema de Adélia Prado
“O nascimento do poema” de Adélia Prado
Maria Lucia Nascimento Capozzi
Análise preliminar da obra poética de Adélia Prado
A formação acadêmica da notável poeta mineira, nascida em 1935, na cidade de Divinópolis, bem como a vida pessoal da escritora (seus relacionamentos familiares, a religiosidade vivenciada) dão-nos os indícios mais pertinentes do conteúdo textual de sua obra literária. Escritora-filósofa, utiliza-se permanentemente da criação literária para fazer sua catarse existencial, um simulacro de confissão de seus pensamentos profundos e ações cotidianas, através do “eu poético”, sujeito e objeto predominante em sua criação.
A poesia de Adélia Prado acontece em rota circular ao redor dos temas essenciais da humanidade: misticismo, erotismo, trivialidades, grandezas; o humano e o divino na permanente e inquietante dicotomia entre o que é tangível ou impalpável, perecível ou permanente. Toda a obra de Adélia Prado é permeada de ousadias líricas reveladoras da realidade simples e ao mesmo tempo complexa do cotidiano, da qual o poeta é, em última análise, arauto e porta-voz.
Seus versos livres abordam temas constantes, vitais, que justificam a chama de imortalidade que subjaz e perpassa a condição humana. Com uma das mãos afaga o corpo físico; recolhe, descreve e perpetua suas emoções profundas, enquanto com a outra tateia a divindade, o aparentemente intangível: Deus.
Ela própria asseverou em seu livro “Bagagem”, no 11º verso do poema “Com Licença Poética”: “Mas, o que sinto, escrevo. Cumpro a sina.” Este verso revelador define o permanente diálogo com seu “eu lírico”, transubstancia sua matéria em metáforas de fina poesia e justifica sua obra.
A criação literária de Adélia Prado, como analisaremos mais detidamente na composição poética “O Nascimento do Poema”, logo a seguir, é toda urdida em tom coloquial, tramada com registros lingüísticos da oralidade de seu tempo: a mulher do povo, mineira do interior, mescla-se à