Resenha Bagagem
"Bagagem" é o livro de estreia da escritora cearense Adélia Prado e foi publicado em 1976 sob recomendação do grande poeta Carlos Drummond de Andrade. A obra é dividia em quatro grandes seções: a primeira e maior delas é "O modo poético", que, como o próprio nome diz, tem diversos poemas onde a principal preocupação é a definição da linguagem, do fazer poético e também de buscar e definir o papel da autora como mulher e poetisa; em seguida tem-se "Um jeito e amor", com grandes poemas amorosos; a terceira e quarta seções são chamadas "A sarça ardente" e divididas em parte 1 e 2, e trazem poemas cuja temática básica é a memória. Por fim, há uma quinta parte, "Alfândega", que é composta por somente um poema homônimo.
A poesia de Adélia Prado nasce de um movimento dos poetas mineiros que pretendia resgatar o lirismo na literatura brasileira. Suas principais temáticas são referentes ao papel da mulher em uma sociedade extremamente machista e que, por conseguinte, não dá espaço para as mulheres. Em seus poemas, há uma grande identificação do eu-lírico feminino com as mulheres comuns do dia-a-dia: a filha, a mãe, a esposa. Assim, na medida em que a poeta se aproxima das mulheres comuns e dá voz à elas, a poética de Adélia apresenta um forte caráter feminista e de luta, uma vez que através da poesia ela reclama um lugar igualitário para a mulher na sociedade.
Outra característica muito marcante na poesia de Adélia Prado é a questão da religiosidade. Em "Bagagem" pode-se essa presença religiosa na obra nas epígrafes de cada parte do livro, que são trechos retirados da Bíblia, e também nos inúmeros poemas com menções a Deus. Além dessas referências explícitas, nota-se nos poemas que tratam do fazer poético que para Adélia o dom da poesia é de inspiração divina e é uma "sina" ("Com licença poética") que deve ser carregada. Em outros poemas, Adélia Prado brinca com a relação sagrado versus profano para refletir sobre os dogmas pregados pelo misticismo católico