Pornografia e literatura
Cânone Marginal
E o homem deseja a mulher
Tão naturalmente
Quanta a rã sedenta deseja a chuva.
(Rig Veda, poema indiano, séc. XV, a.C.).
Temas Marginais na Literatura.
Muito se tem discutido nas academias e fóruns literários a hegemonia do cânone, sobretudo depois das declarações intrigantes do crítico nova-iorquino Harold Bloom e seu supostamente inabalável Cânone Ocidental. A influência daqueles indicados pelo professor é indiscutível, porém há de se concordar que ali se faz presente a lista de autores legitimados, também, pelo campo do poder e da conjuntura literário-social, na qual se figuraram obras e temas.
Figurações temáticas engendradas na formação canônica possibilitam perquirições para além do criador. Não raro, os autores postulados na égide da Criação Artística, não se debruçam sobre temas tidos como periféricos, a saber, o humor, a pornografia, o erotismo... A lacuna constatada precisa ser considerada, pois a Literatura também abrange situações dentro de "tudo" o que substancia o homem.
Modelos não devem estar separados de um teor ideológico. Moralismos, dogmatismos e intolerâncias estão a serviço de qualquer posição social:
Toda interpretação é feita a partir de uma dada posição social, de classe institucional. É muito difícil que um saber esteja desvinculado do poder. Com isso deduzimos que os textos não podem ser dissociados de certa configuração ideológica, na proporção em que o que é dito depende de quem fala no texto e de sua inscrição REIS (1992, p.69).
Fomentado em Michel Focault, Roberto Reis inviabiliza a separação entre discurso e poder. A representação do que se chama cânone literário não estaria também dissociada dessa interpretação, haja vista as parcialidades existentes na plêiade, cujo conjunto, quase sempre, não contempla negros, homossexuais, outras etnias e opções políticas não vigentes.
A indissociabilidade da influência das ideologias vigentes sobre o cânone literário se torna assim, uma