Resenha - O Caderno Rosa de Lori Lamby

O caderno rosa de Lori Lamby

O caderno rosa de Lori Lamby (HILST, 2005) é um livro escrito na forma de diário por uma menina de oito anos, Lori Lamby. Nele, Lori escreve que tem relações sexuais com homens mais velhos, de quem ela ganha dinheiro, e ainda, que possibilita o seu desejo de ver seu quarto todo decorado e cor-de-rosa. A própria Lori diz, em uma passagem: “sem dinheiro a gente fica triste porque não pode comprar coisas lindas que a gente vê na televisão” (HILST, 2005, p. 17). Além do mais, Lori admite gostar do sexo e não vê mal nenhum nisso.
Muitas vezes a menina via seu pai levar broncas do chefe da editora de livros que trabalhava, porque ele exigia que seu pai escrevesse narrativas pornográficas. A verdade é que a autora do livro, Hilda Hilst, nos leva a acreditar em pura pornografia em sua obra, mas nada passa de um jogo do próprio ato da construção literária.
Vale a pena transcrever alguns trechos de sua apresentação e primeiras anotações da menina:

Eu tenho oito anos. Eu vou contar tudo do jeito que eu sei porque mamãe e papai me falaram para eu contar do jeito que eu sei. E depois eu falo do começo da história. Agora eu quero falar do moço que veio aqui e que mami disse agora que não é tão moço, então eu deitei na minha caminha que é muito bonita, toda cor-de-rosa. E a mami só pôde comprar essa caminha depois que eu comecei a fazer isso que eu vou contar (HILST, 2005, p.3)

Disfarçado de pornografia, O caderno rosa de Lori Lamby é uma fina reflexão sobre o ato de escrever como possibilidade de jogar com a linguagem. Na própria dedicatória da autora, Hilda Hilst, há ambigüidade de sentido. “A memória da língua”: sugere que há uma linguagem esquecida no tempo e que há uma discussão sobre o valor estético, já que a própria autora sempre escreveu consideradamente uma “literatura difícil” e há ainda a polêmica da questão sexual no nome da personagem “Lamby”, no sentido de “lamber”, pois em vários